quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

L'allegoria della signorina Eluana Englaro

Kuolema. موت. A Halál. Der Tod. 死亡. Death. Ölüm. La Mort. 死.
É este o nome da morte. Um esqueleto com uma gadanha, uma parada negra, uma linda mulher de carnudos lábios vermelhos. É este o aspecto da morte.
Pelo menos é o que se diz.
Será justo chamá-la a nós, quando ela se recusa a vir?
Como toda a gente sabe, Eluana Englaro morreu. Honestamente pouco me importa o caso pessoal de Eluana, porém, importa-me, e bastante, o caso da morte médicamente assistida. Será de admitir esta prática, com todas as questões que levanta?
Por razões de Direito stricto sensu não é possivel concordar. Para quem não tiver vida (vida.lol), e quiser conhecer das razões de Direito, é favor consultar os maravilhosos tomos do Tratado de Direito Civil Português do Professor Menezes Cordeiro. É totalmente inadmissivél que se tire a vida a um Ser Humano, pois isso constituiria um crime, um homicidio que deve sempre ser combatido, pois para além das inumeras normas legais que se quebrariam, estar-se-ia a violar o mais precioso bem do Homem.
No entanto, há vida (vida.lol) para além da douta Juris Scientia.
Deixemos Eluana no sitio onde pertençe, e imaginemos alguém, na plenitude das suas capacidades cognitivas, mas que por alguma razão não tem capacidades motoras. Imaginemos também que essa pessoa nem sempre foi assim, que trabalhava, que tinha uma familia e que se valia por si próprio. Será então assim tão descabido que ela anseie pela sua morte? Será assim tão descabido que alguém o ajude a morrer? Será que a vida é sempre um bem superior, ou esta deve estar à disposição do seu dono (e aqui, dono de facto!).
Em Roma, ao Homem era-lhe reconhecido o Direito a morrer às suas próprias mãos, quando assim o achasse conveniente. No Japão feudal muitas vezes se cometia o suicidio ritual quando se caía em desgraça. Sócrates (o da filosofia), bebeu por sua mão a cicuta que o matou, totalmente consciento dos efeitos.
Desde sempre que o suicidio é visto em certos casos como um fim honrado daquele que o comete.
Assim, não será mais Humano ajudar a que seja feita a vontade daquele, do que mantê-lo vivo?
Não sei. Palavra de honra que não sei. Nem sequer sei se estando eu nessa situação manteria este pensamento.
Longe de mim fazer a apologia do suicidio! Nunca será esse o meu fito, em tempo ou situação alguma. Apenas digo o que para mim é uma verdade absoluta: custa-me muito mais saber que alguém está vivo numa vida que não o é, do que saber que esse alguém encontrou a paz perpétua (onde não se paga contas, e onde não se tem de estudar p'rós exames!).

3 comentários:

cat salvaterra disse...

Como disse o Prof Menezes Cordeiro numa das suas maravilhosas aulas, quem disse que a morte é algo melhor que a vida, ainda que a vida possa parecer degradante ou sem qualquer sentido? Nunca ninguém voltou à vida para nos contar como é a morte... assim, não posso deixar de me convencer pelos argumentos estritamente jurídicos, e defender a vida humana, incondicionalmente.

FNL disse...

Mas o caso de Eluana foi diferente, mon ami. Confesso que não tomei muita atenção ao assunto, mas pareceu-me que a senhora era alimentada por uma sonda (ou seja, desfaziam-lhe literalmente os alimentos porque ela não podia comer e introduziam-lhe pelo corpo). O que fizeram foi deixá-la morrer à fome, tirando-lhe o alimento. Não foi 'desligar a máquina' que a mantinha viva artificalmente (como, por exemplo, no caso de Arafat, se bem se lembram - e por falar em Arafat, que é feito do sr. Sharon, ainda vivo?).

Agora, é de facto uma questão complexa. Para reflexão indico 2 filmes: Million Dollar Baby e O Escafandro e a Borboleta. Ambos os casos aconteceram. Mas enquanto num a pessoa decide morrer (conduzindo todas as suas últimas forças para esse objectivo), o outro é trágico e magnífico.

Mas enfim, não me quero alongar mais. Nestas matérias sou como o outro: A Razão está... com Menezes Cordeiro!

m.v. disse...

Parece-me que o meu post nao foi bem entendido.
Ora, o que eu quero dizer com isto, é que não sou favorável a que, numa situação de coma ou outra qualquer doença que retire capacidades mentais, haja o 'desligar da máquina'. Não penso que haja alguém que deva decidir acerca da vida ou morte das pessoas, seja qual for a circunstância.
Porém defendo que se a lucidez se mantiver e todas a capacidades cognitivas se encontrarem intactas, a pessoa deve ter o Direito a morrer, a terminar a sua vida, de modo pacífico, e se tal for necessário, com auxilio de terceiro.
Por isso, aqui cabe a este vosso fiel e honrado servo dizer: a razão não se encontra com Menzes Cordeiro.

PS(com mairia absoluta sff) - Million Dollar Baby é um dos melhores filmes que já vi, mas isto assim de caras. Quanto a O Escafandro e a Borboleta, é uma questão do torrent se despachar.