O Conselho Pedagógico da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa deverá apreciar na próxima semana o enunciado de um exame, relativo ao casamento homossexual, que alguns alunos afirmam ser uma "provocação discriminatória e ridícula".
Na prova de Direito Constitucional II, o regente da cadeira, Paulo Otero, propôs um enunciado segundo o qual a Assembleia da República aprovou um diploma que permite o casamento poligâmico entre seres humanos e entre humanos e animais vertebrados domésticos, como "um complemento à lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo".
Depois, foi pedido aos estudantes que apresentassem argumentos para defender tanto a constitucionalidade como a inconstitucionalidade do documento.
"O Prof. Doutor Paulo Otero, o regente da cadeira, decidiu que seria este o caso prático que os alunos deveriam resolver e, numa provocação discriminatória e ridícula, fez-se um paralelismo entre a poligamia/bestialidade e a homossexualidade, disfarçando de humor aquilo que é um desrespeito e uma ofensa de proporções maiores do que o Sr. Professor pode imaginar", afirma uma aluna, no blogue 'Jugular'.
A estudante afirma, também, que o docente "até podia ter apresentado o mesmo caso prático sem, no entanto, referir que o diploma era 'em complemento à lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo'".
"Mas a comparação foi obviamente propositada e consciente. Ridicularizando um passo marcante na história de Portugal e do Mundo", acrescenta Raquel Rodrigues.
Contactado pela agência Lusa, o diretor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa afirmou ter tido hoje conhecimento do caso e sublinhou que o Conselho Pedagógico é o órgão que tem a "primeira competência" para analisar o caso.
"A indicação que recebi é que a questão vai ser analisada na reunião do Conselho Pedagógico da próxima semana. A Faculdade respeita a crítica à Constituição e à Lei que os professores fazem no exercício da profissão docente. Não subscrevemos nem deixamos de subscrever essas críticas como instituição", afirmou Vera Cruz Pinto.
O responsável acrescentou que aquilo que for exercício daquela liberdade, nos termos da Lei, é "respeitado".
"Se houver alguma violação de Lei, com certeza a Faculdade, dentro dos seus procedimentos internos, pronunciar-se-á", afirmou, sublinhando que os órgãos internos estão a "atuar".
Contactado pela Lusa, o docente Paulo Otero limitou-se a referir que "o silêncio é de ouro se a palavra é de prata", não querendo fazer mais comentários.
O presidente da Associação de Estudantes, Ivan Duarte, disse à Lusa que a associação também tinha recebido a indicação de que o caso seria analisado em Conselho Pedagógico, mas que não podia confirmar, para já, se tinha sido apresentada queixa.
A proposta de lei que legaliza o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo foi aprovada pelo Parlamento em votação final global a 11 de fevereiro, com votos favoráveis do PS, BE, PCP e Verdes.
Seis deputados do PSD abstiveram-se. O CDS-PP e a maioria da bancada social democrata votaram contra o diploma, bem como as duas deputadas independentes eleitas pelo PS.
Diário Digital / Lusa
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1 comentário:
Faço minhas as palavras dos Doutores Miguel Pereira e Lyon, expostas no Requerimento (bolds meus):
"Lyon disse...
Acho mal que ponham os testes - não exames - da FDL cá fora. E olhem que aqui no blog nós pomos cá fora muita coisa.
É que é tradição naquela casa fazer testes com referências a temas da actualidade, e muitas vezes com um pingo de humor. Esses textos não são declarações públicas, não são afirmações de posições políticas, são meros exercícios académicos.
Não sei o que estão a dar na matéria, mas se estiver relacionado de alguma forma, não vejo problema. De qualquer forma 12 pontos para discutir a constitucionalidade de uma questão parece-me muito. Não deram mais matéria?
E já agora, provavelmente porque nunca fui muito com aluno a Constitucional, eu cá não conseguiria rebater o Artigo 1º. Mas se alguém me quiser ensinar como se faz estão à vontade.
Miguel Pereira disse...
A razão está com Menezes Cordeiro, mas isso está sempre. Aqui para o caso, a razão está com o Lyon.
Enunciados deste tipo não são raros, lembro-me que no 1º ano do curso o enunciado do exame de Direito de Economia narrava a história do Ministro Luciano Mago e da Universidade Imprudente e ainda no exame de Direitos Fundamentais deste ano se apresentava no enunciado uma lei fortemente discriminatória para com os imigrantes (onde anda o SOS Racismo?), aos quais seria retirado o direito ao subsidio de desemprego (ou reduzido por comparação aos nacionais, não tenho a certeza).
Como diz o Lyon, tratam-se de exercícios académicos que pretendem precisamente gerar discussão. Desde que envolva a matéria dada, tudo bem. Realmente grave seria se a correcção tivesse mais em conta a opinião dos alunos do que a sua argumentação.
Para finalizar, queria realçar um pormenor muito importante do enunciado que em consequência de toda esta polémica pode passar ao lado de quem o lê: não há ponderação global. Obrigado Professor Paulo Otero. "
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