sábado, 22 de novembro de 2008

Um pózinho de coisa nenhuma...

“Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se quando, abrindo a janela para dentro de mim, pude esquecer-me da visão do seu movimento.

Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Nunca amei coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem pudia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minha próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraíu, e os aquedutos que se esfumavam - quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem - uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.”

Fernando Pessoa, Livro do desassossego

2 comentários:

Bárbara Azevedo disse...

gostei
:P

cat salvaterra disse...

Um desassossego que existe em cada um de nós.